A palavra “meditação”, que se popularizou no Ocidente, corresponde no pali, idioma original desta tradição, ao termo bhavana, que pode ser traduzido também como “cultivo da mente”. No contexto tradicional budista, a prática específica da meditação é vista como parte de um processo de desenvolvimento espiritual que culmina no “despertar” e na superação do sofrimento, realizados pelo Buda. Este “nobre caminho”, envolve múltiplos aspectos que poderiam ser sintetizados em 3 tópicos: conduta ética, prática da meditação e desenvolvimento da sabedoria.
A “ética”, ou sila em pali, inclui um trabalho sobre as ações, fala e modo de vida, implicando também na prática da generosidade. Ela se constitui como um alicerce de todo caminho, criando as condições para o refinamento da prática.
A “sabedoria”, ou pañña, se inicia com o estudo e a reflexão sobre o Dhamma e floresce com os insights advindos da contemplação da natureza dos fenômenos. A superação dos estados grosseiros da mente, contaminados por apego, aversão e delusão, conduzem à visão direta da impermanência, insatisfatoriedade e não substancialidade, que caracterizam a realidade condicionada. Sem a prática da meditação não é possível superar os condicionamentos mais profundos que impedem o pleno desenvolvimento da sabedora e a liberação da mente.
Vipassana e Samatha: A Meditação ensinada pelo Buda.
“No Budismo temos dois tipos principais de meditação. São habilidades mentais distintas, modos de funcionamento ou qualidades da consciência. Em páli, idioma original da literatura Theravada, elas são chamadas Vipassana e Samatha.
Vipassana pode ser traduzida por insight, uma consciência clara do que está exatamente acontecendo no momento em que acontece. Samatha pode ser traduzida como concentração ou tranquilidade. É um estado em que a mente é levada ao repouso, focalizando apenas um item, não se permitindo que ela divague. Quando se alcança isto, o corpo e a mente são tomados de uma profunda calma, um estado de tranquilidade que deve ser experimentado para ser compreendido.
A maioria dos sistemas de meditação dá ênfase ao componente Samatha. O meditante foca a mente em certos itens, tal como uma prece, certos objetos específicos, um cântico, a chama de uma vela, uma imagem religiosa ou qualquer outra coisa, e exclui da consciência todos os demais pensamentos e percepções. O resultado é um estado de êxtase que perdura até o término da meditação sentada. É belo, deleitoso, significativo e atraente, mas apenas temporariamente. A meditação Vipassana volta-se para o outro componente, o insight.
O praticante de meditação Vipassana usa sua concentração como um instrumento através do qual sua consciência vai demolindo aos poucos a muralha de ilusão que o separa da luz viva da realidade. É um processo gradual de aumento constante da consciência e dirigido para os processos internos da própria realidade. Demora anos, mas um dia o meditante rompe o muro e, de súbito, se encontra na presença da luz. A transformação é completa. Chama-se libertação, e é permanente. A Libertação é a meta de todos os sistemas de prática budista. Porém as rotas para atingir esse fim são muito diferentes.”
Bhante Henepola Gunaratana
Mindfulness in Plain English p.3, USA: Wisdom, 2002